26/03/2010

trabalho de conclusão

Atividades Lúdicas

 

 

 

   No mundo atual, o crescimento acelerado e desordenado das cidades, a crescente participação da mulher no mercado de trabalho com conseqüentes modificações na organização familiar – somada à desqualificação do lúdico, do tempo livre e de lazer pela sociedade capitalista, vem retirando das crianças os espaços e os tempos que eram de brincar.

   Nas creches e pré-escolas têm-se notado a dificuldade da oferta de brinquedos paras as crianças, além da pouca importância dada à atividade lúdica para desenvolvimento da criança.

   O brinquedo é a essência da infância e sua principal atividade, mas nem sempre as instituições desenvolvem práticas que tomam este pressuposto como orientador da organização de suas rotinas.

   As instituições escolares cada vez mais têm se preocupado com a antecipação de oferta de conteúdos formais do ensino e dado ênfase à alfabetização precoce das crianças. Percebe-se que há um despreparo relativo ao conhecimento das necessidades básicas das crianças pequenas e, principalmente, em relação ao brincar, um desconhecimento de sua função como linguagem e principal forma de interação com o mundo.

   Brincar é uma atividade cotidiana na vida das crianças. É o brinquedo a forma pela qual ela resolve a maioria dos conflitos criados pelas limitações do mundo em que vive e que é, eminentemente, um mundo dos adultos.

   Através da brincadeira a criança expressa sua forma de representação da realidade.

A criança quando brinca cria situações imaginárias em que se comporta como se estivesse agindo no mundo do adulto. Enquanto brinca, seu conhecimento sobre o mundo se amplia, uma vez que ela pode fazer de conta e colocar-se no lugar do adulto.

   Assim, no ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os espaços valem e significam outra coisa daquilo que apresentam ser. Ao brincar a criança recria e repensa os acontecimentos que lhes deram origem, sabendo que está brincando.

   Para uma criança bem pequena o ato de brincar significa muito atendimento à necessidade de exploração dos objetos. À medida que cresce, sustentada pelas imagens mentais que já se formaram, a criança utiliza-se do jogo simbólico para criar significados para objetos e os espaços. Dessa forma, à cadeira pode atribuir a função

de um trono do príncipe, à vassoura de seu cavalo e à escada de seu tesouro. As crianças utilizam-se de várias formas de representação: o desenho, a linguagem, a imitação e, principalmente, o jogo simbólico, mais conhecido como jogo de “faz de conta”.

Estes elementos vão se constituindo em recursos de socialização e, historicamente, conforme o ambiente cultural, vão produzindo os saberes infantis sobre o mundo. As brincadeiras e jogos que vão surgindo gradativamente na vida do ser - desde os mais funcionais até os de regras, mais elaborados - são os elementos que lhe proporcionarão estas experiências, possibilitando a conquista da sua identidade

As situações de brincadeiras possibilitam, também, às crianças, o encontro com seus pares, fazendo com que interajam socialmente, quer seja no espaço escolar ou não.         No grupo descobrem que não são os únicos sujeitos da ação, e que para alcançar seus objetivos precisam levar em conta o fato de que outros também tem objetivos próprios que querem satisfazer.

   Os jogos infantis, no dizer de Piaget (1994), constituem-se “admiráveis instituições sociais” e através deles as crianças vão desenvolvendo a noção de autonomia e de reciprocidade, de ordem e de ritmo. Permitir à criança espaço para brincar, proporcionando-lhe interações que vêm, realmente, ao encontro do que ela é, aliado às nossas tentativas no sentido de compreendêla, efetivamente, nestas atividades, é dar-lhes mostras de “respeito”. Assim, fica evidente a importância do brincar no âmbito escolar.

   As estruturas conscientes e/ou inconscientes existentes nesse adulto que ensina se

refletem, fundamentalmente, na sua prática. Assim, um professor que não sabe e/ou não gosta de brincar, dificilmente desenvolverá um “olhar sensível” para a prática lúdica do seu aluno, tão pouco reconhecerá o valor das brincadeiras na vida da criança.

   Wassermann (1990) nos diz que, para que o professor utilize as brincadeiras no

âmbito do espaço escolar com a devida “seriedade”, considerando a importância de que ele reflita na e sobre a prática, de acordo com Schon 1995, ele tem que saber relacionar o processo de desenvolvimento infantil ao surgimento das brincadeiras, considerando que o brincar vai além das questões estritamente cognitivas, sendo, culturalmente, uma atividade humana.

   Para Leontiev e Elkonin, a brincadeira é a atividade principal do período pré-escolar.

   A brincadeira, segundo Vigotski (1984, p. 117), é a atividade principal porque “cria uma zona de desenvolvimento proximal da criança”, ou seja, no brinquedo a criança realiza ações que estão além do que sua idade lhe permite realizar, agindo no mundo que a rodeia tentando apreendê-lo. Neste ponto o papel da imaginação aparece como

emancipatório: a criança utiliza-se da imaginação na brincadeira comouma forma de realizar operações que lhe são impossíveis em razão de sua idade. A criança reproduz ao brincar uma situação real do mundo em que vive, extrapolando suas condições materiais reais com a ajuda do aspecto imaginativo. Para que a criança possa tornar real uma operação impossível de ser realizada na sua idade, ela utiliza-se de ações

que possuem um caráter imaginário, o faz-de-conta entra em cena, gerando uma discrepância, segundo Leontiev (1988), entre a operação que deve ser realizada (por exemplo andar a cavalo) e as ações que formam essa operação (por exemplo selar o cavalo, montar no cavalo etc.).

   Como a criança não pode usar um cavalo real, ela utiliza-se de um cabo de vassoura, por exemplo, como se este fosse seu cavalo. Isso ocorre porque a criança tem como alvo o processo e não a ação. Outro exemplo é a brincadeira com uma boneca. A criança ao brincar com a boneca repete situações ou acontecimentos presentes na vida adulta, como por exemplo cuidar de um bebê. Ao fazê-lo ela imita a forma como a mãe cuida do irmão mais novo. Por isso Vigotski (1984, p. 117) afirma que o brinquedo “é muito mais a lembrança de alguma coisa que realmente ocorreu do que imaginação”. Leontiev (1988, p. 126) afirma que na brincadeira todas as operações e ações que a criança realiza são reais e sociais; por meio delas a criança busca apreender a realidade. Leontiev apresenta um exemplo de crianças brincando de vacinação contra a varíola. Nessa brincadeira as crianças imitavam a seqüência real da ação realizada para a vacinação. Primeiro passava-se álcool na pele e depois

era aplicada a vacina. O adulto pesquisador que observava essa brincadeira propôs às crianças a utilização de álcool de verdade, o que foi recebido com entusiasmo pelas crianças. Mas então ele disse que precisaria pegar o álcool em outra sala e sugeriu que elas fossem aplicando a vacina enquanto ele iria buscar o álcool e deixassem para passar o álcool ao final do processo. As crianças não aceitaram a sugestão e preferiram não usar álcool de verdade, mas manter a seqüência real da ação.

   Com a presença das atividades lúdicas e suas características de maior espontaneidade, uso do imaginário e relação com o mundo simbólico, Bomtempo (1986), Alves (1986), assim como Cerri (2001), destacam a possibilidade dos alunos incorporarem o mundo ao redor, sem compromisso direto com a realidade, aumentando a liberdade de expressão e o prazer da convivência com o outro do grupo social ao qual pertencem.

   Para estes mesmo autores, é muito importante que o lúdico seja sempre motivado, pois é essencial na vivência e no crescimento saudável e harmônico das crianças, além de ser importante para a formação crítica e criativa.

   Por meio das atividades lúdicas e suas características, os alunos podem atuar de forma mais natural, coerente com as expectativas da faixa etária, adquirindo maior autoconfiança e independência, conforme salientam Lima (apud Cerri, 2001) e Romera (1999), ampliando, inclusive, o universo motor.

   O lúdico, tomado como uma forma de lidar com a agressividade, possibilita à criança expressar simbolicamente o que foi reprimido, expandir sentimentos acumulados de tensão, insegurança, frustração e agressividade, permitindo a conscientização de uma forma natural, fluente e sem culpa (Cerri, 2001).

  Umas das formas para interferir positivamente na perspectiva de mudança de comportamento é a sensibilidade do educador, capaz de fomentar elementos que auxiliem na busca do prazer, compartilhando experiências mais significativas e que vão ao encontro das expectativas desta população, para que se possa interferir positivamente no modo de agir dos jovens e adolescentes envolvidos no processo educacional, catalisando possíveis mudanças atitudinais (Schwartz, 1997).

   É importante conhecer as necessidades e intenções dos participantes, para poder ajudá-los na realização dos seus objetivos e, também, para que o local se torne agradável, a fim de permitir um maior desenvolvimento de todos.