Plano de Aula Ensino Médio
Câmeras em ação
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Reportagem de Veja
Objetivos
Relacionar as mudanças na concepção de obras visuais com as possibilidades estéticas permitidas pela edição de fotografias
Introdução
A evolução das modernas câmeras fotográficas mudou de rumo. As questões relativas à definição das imagens parecem estar superadas e o que importa agora são os recursos adicionais que os aparelhos oferecem para o tratamento das fotos. Tudo isso aponta para o despertar e a liberação do artista dentro de todos nós, evocando as obras de grandes mestres da arte de clicar. Convoque a turma para esse trabalho de criação.
Retroactive I, Robert Rauschenberg, 1964: O dadaísta americano
usava imagens do cotidiano da mídia impressa para produzir
suas colagens. Esta se tornou um ícone dos EUA dos anos 1960.
Foto: Imagining America / DivulgaçãoAtividades
1ª aula - Pergunte quem acha que toda fotografia é uma representação fiel da realidade. Será que as imagens de um documento de identidade, de um álbum de família ou aquelas que registram fatos históricos mostram sempre uma verdade? A resposta virá logo após a leitura coletiva da reportagem associada a este plano de aula. Ao terminá-la, verifique se os alunos usam câmera fotográfica - com filme ou digital - ou tiram fotos com o celular. Eles costumam introduzir mudanças nesses registros pictóricos? De que tipo?
Lembre que a fotografia, meio de representação surgido no século XIX, facilitou o papel dos artistas. Em vez de desenhar uma cena, eles passaram a poder fixar imagens com a câmera, preparada para captar a luz. As técnicas evoluíram e, hoje, um sensor digital faz o trabalho da película sensível. Conte que, no século retrasado, os artistas já faziam experiências divertidas com imagens fotográficas - como a elaboração de figuras desfocadas ou distorcidas pelas lentes e a pintura à mão de registros em preto e branco. Muitos também começaram a produzir colagens, de modo manual, com tesoura, ou sobrepondo a ampliação de uma só figura ou de figuras diferentes.
Kumano, Mariko Mori, 1998: Passado, presente e futuro
combinam-se nesta montagem da artista japonesa, que
utiliza diversos recursos de computação gráfica para
compor suas paisagens ticas. Foto: DivulgaçãoEsses procedimentos de fotomontagem - que também já podem ser efetuados por programas de edição digital em computadores - estavam associados a uma idéia até então inédita de criação de imagens. Vários artistas do século XX (os cubistas, dadaístas e surrealistas, por exemplo) perceberam que nem toda invenção dependia do desenvolvimento de figuras originais. Bastava manipular as já existentes.
Mencione que um pensador influente nesse tipo de procedimento artístico foi o filósofo alemão Walter Benjamin. Em seu ensaio O Autor como Produtor, ele sugere que essa maneira de criar seria interessante e estimulante para a arte moderna. A "produção" envolveria um trabalho coletivo - e não individual - no qual a idéia de autoria teria de ser repensada. Afinal, seria válida a apropriação de imagens alheias para formar algo com significado diferente? Segundo ele, sim. E tal fato modificaria a percepção da realidade. Isso valeria ainda para o teatro de Bertolt Brecht, o cinema e as demais artes.
Afinidades Eletivas, Rosângela Rennó, 1990: Inspirada
no romance homônimo de Goethe, a autora mineira
empregou negativos na montagem de um grupo de
diversas combinações de casais. Foto: DivulgaçãoRessalte que até os músicos, hoje em dia, são mais produtores do que criadores originais. Os DJs usam samplers para copiar trechos de melodias, alterar ritmos e timbres, colar partes, enfim, fazer algo novo com coisas velhas. No caso das fotos, as alterações podem ser mais sutis. Os tratamentos da imagem digital, que transformam características da figura, permitem interferir no contraste e na luz, acertar a cor, eliminar manchas etc. O retoque, no passado obtido com pincel, agora surge por meio de um clique no mouse.
Em termos de experimentação, vale citar os artistas pop da década de 1960, que retomaram o dadaísmo no contexto da cultura visual de massa. Já os fotógrafos artísticos atuais usam novos recursos para inventar cenas e paisagens. Às vezes, parecendo mais reais do que a realidade. Em outras, projetando coisas estranhas, engraçadas, futurísticas. Após esse papo, exiba as imagens que ilustram este roteiro e comente os recursos usados pelos autores.
O Nu na Fotografia, Man Ray, 1937: O artista americano
contribuiu com o dadaísmo. Acima, duas experiências
com solarização - o brilho intensificado num caso e o
jogo com a sombra no outro. Foto: Divulgação
2ª aula Divida a turma em pequenos grupos e proponha dois exercícios. O primeiro envolve a realização de uma colagem, que pode ser feita com recortes de revistas ou diretamente no computador - se for possível o acesso ao equipamento. Sugira que as equipes coletem imagens de revistas, jornais, internet ou qualquer outra fonte. A idéia é estimular as práticas de recorte, justaposição, sobreposição, rotação e espelhamento das figuras - o que se puder fazer. Seja com a digitalização das imagens ou com cola e tesoura, o importante é que a classe perceba a riqueza de criação na montagem de novos ícones pela apropriação de outros já prontos. Aproveite para desenvolver a percepção de escala, explorando figuras de vários tamanhos.
O segundo exercício refere-se à alteração de imagens por meio de distorções, filtros, efeitos e cor. Faculte o uso de uma figura da atividade anterior, mas tome o cuidado de limitar cada time à escolha de apenas uma. Oriente os adolescentes a introduzirem alterações, experimentando todos os recursos oferecidos pelo programa disponível. Os grupos devem comentar o significado das modificações executadas. Até que ponto a imagem original ainda é reconhecível? Qual ficou mais interessante? E a mais engraçada?
Finalize retomando a questão inicial: os alunos ainda acham que as fotografias são sempre documentos reveladores da verdade?Para você, professor
Avalie o instrumental
Antes de propor os exercícios, é melhor você se acostumar com os diversos procedimentos e termos ligados à edição e montagem, seja de modo manual ou digital. Os computadores devem ter instalado um programa de edição fotográfica. Há vários disponíveis gratuitamente para download, alternativos aos programas comerciais mais conhecidos. Tente se habituar aos recursos de seleção, recorte, deslocamento, duplicação, espelhamento, rotação etc. Explore também o que o software oferece na área de filtros e efeitos: desfocamento, granulação, textura, solarização... Aprenda a selecionar áreas, mudar cores e distorcer imagens. E, claro, descubra como salvar a nova imagem obtida. Se tiver acesso a um projetor multimídia, melhor, pois será mais fácil mostrar os recursos aos alunos. Mas deixe que eles também façam explorações. Caso não tenha nada disso, a velha colagem manual será muito bem-vinda.