02/02/2010

As várias faces do pai do udigrud | Plano de aula | | Nova Escola

 

Atividade Permanente Ensino Médio

As várias faces do pai do udigrud

Bases Legais
Linguagens e Códigos

Conteúdo
Artes visuais

Conteúdo relacionado

Este plano de aula está ligado à seguinte reportagem de VEJA:

Objetivos
Conhecer e discutir a importância da obra do cartunista Robert Crumb
Introdução
Millôr Fernandes tece comentários elogiosos sobre The Robert Crumb Coffee Table Book, obra de dimensões generosas que promove uma retrospectiva ilustrada da vida do cartunista underground. Seus alunos gostam de gibis? Discordam de quem afirma que histórias em quadrinhos são coisa de criança? O artigo de VEJA e este plano de aula fornecem argumentos para alimentar a polêmica e estimulam estudos sobre a contracultura dos anos 1960 e seus desdobramentos.
Atividades
1ª aula - Após a leitura coletiva do ensaio de Millôr, lance algumas questões para verificar a compreensão da turma e ajudá-la a contextualizar o assunto. Quem já ouviu falar em Jaguar, Madame Satã e Harvey Kurtzman? Uma breve incursão por sites de busca na internet vai revelar que:
• Sérgio Magalhães de Alencar Jaguaribe - Jaguar para os amigos e inimigos - foi um dos fundadores de O Pasquim, jornal alternativo que abusou do humor irreverente para criticar a ditadura militar brasileira. Entre seus parceiros nessa empreitada estavam Ziraldo, Ivan Lessa e o próprio Millôr;
•  João Francisco dos Santos, o Madame Satã, foi um personagem marcante da boêmia carioca na década de 1930. Malandro, capoeirista, transformista e presidiário, teve sua biografia levada às telas em 2002 pelo diretor Karïm Aïnouz;
• Kurtzman idealizou a revista Mad, publicação satírica lançada nos EUA em 1950 e que perdura até hoje desferindo ataques ferinos à produção midiática, à política e às contradições do comportamento humano.
Por fim, pergunte se a moçada sabe algo a respeito de Robert Crumb que vá além do texto de VEJA. Se for o caso, faça provocações: conte que o quadrinista, considerado um dos expoentes da contracultura do século XX, ao lado de escritores como Jack Kerouac e Charles Bukowski e músicos como Bob Dylan e Frank Zappa, é hoje um sexagenário careta, que cria a filha numa cidadezinha medieval do sul da França.
Convide-os, então, a conhecer um pouco mais da vida e da obra desse autor tão talentoso quanto controverso - e a influência exercida por ele no Brasil.
2ª aula - Partilhe com os estudantes amostras do trabalho de Crumb (você pode imprimir de vários sites da internet, inclusive do oficial do autor (www.crumbproducts.com). Então, divida a classe em quatro grupos e atribua uma linha de pesquisa a cada um:
o Peça que um dos times levante os dados biográficos mais relevantes, incluindo a origem católica do autor, a difícil convivência familiar, a admiração quase obsessiva por Harvey Kurtzman, a produção de quadrinhos sob o efeito de LSD, a postura machista revelada nos gibis, a paixão pelo blues - diferente de seus contemporâneos, ele não gostava de rock, mas, ainda assim, fez a capa de um disco de Janis Joplin -, os dois casamentos, o desencanto com a terra natal e a conseqüente mudança para a França;
• A segunda equipe vai investigar o momento histórico que culminou com a eclosão do movimento underground. Oriente-a a buscar dados sobre a “caça às bruxas” contra os quadrinhos, levada a cabo nos anos 1950 pelo Senado americano e motivada pela idéia de que essa forma de expressão era responsável pela crescente delinqüência juvenil. O resultado foi a criação da Comics Code Authority, com a missão de fazer valer um conjunto de regras que restringia a liberdade criativa dos roteiristas e desenhistas. Ressalte que, por outro lado, a juventude ianque contestava como nunca o estilo de vida de seus pais e avós. A filosofia hippie, por exemplo, pregava a não-violência, o amor livre e a liberação das drogas psicotrópicas;
• Encarregue o terceiro grupo de analisar os principais personagens criados por Crumb e o ideário que eles simbolizam. Nesse trabalho, não podem ficar de fora Mr. Natural, o falso guru que se aproveita da ingenuidade alheia; Fritz the Cat, um gato bon-vivant adepto de orgias; Angelfood McSpade, a lasciva musa negra que ridiculariza estereótipos (é ela quem ilustra a página de VEJA); e o próprio Crumb, caricaturado como um maníaco sexual atormentado por toda sorte de neuroses. Outra obra fundamental é a HQ Joe Blow, publicada originalmente na edição 4 da revista Zap Comix, em 1969. No enredo, uma família de classe média experimenta relações incestuosas e aconselha essa prática - tida como tabu - para a construção de um mundo melhor;
• Cabe à quarta equipe estudar a influência da obra de Crumb (e de outros representantes dos quadrinhos independentes, como Gilbert Shelton, Rick Griffin e Robert Williams) na recente produção cultural brasileira. Explique que, em terras tupiniquins, a expressão underground virou “udigrudi” e sua postura transgressora inspirou a circulação de gibis como Grilo, O Bicho e Balão - esse último, um fanzine produzido por alunos da Universidade de São Paulo que seguiram carreira nas HQs, nos cartuns, nas charges e na caricatura. Alguns exemplos? Laerte Coutinho - pai dos Piratas do Tietê - e os gêmeos Chico e Paulo Caruso. Vale destacar o tratamento dado por Crumb a Fritz the Cat. Descontente com os rumos do personagem, que estrelou um desenho animado produzido à revelia por Ralph Bakshi, o autor simplesmente “assassinou” sua criação. Qualquer semelhança com a trajetória de Rê Bordosa, a alcoólatra convicta retratada por Arnaldo Angeli Filho na série de tiras Chiclete com Banana, não é mera coincidência.
Para finalizar, debata as conclusões da pesquisa num painel bem-humorado.

Para seus alunos Distribuição alternativa

Em 1968, enquanto os estudantes enfrentavam a polícia nas ruas de Paris e o regime militar no Brasil, um grupo de jovens artistas tramava, à sua moda, uma revolução. Robert Crumb, Gilbert Shelton, Spain Rodriguez, S. Clay Wilson, Victor Moscoso, Rick Griffin e Robert Williams reuniram-se numa comunidade hippie de São Francisco, nos EUA, a fim de criar uma revista em quadrinhos para exaltar o trinômio sexo, drogas e rock’n’roll. Movidos por maconha e ácido lisérgico, eles produziram o primeiro número de Zap Comix, “o gibi que te deixa ligado”, conforme anunciava a capa.
Mas como fazer o material chegar às mãos do público? Nenhum jornaleiro ousaria distribuir uma publicação que mandava às favas tudo o que preconizavam a moral e os bons costumes da época. A solução partiu de Crumb: ao lado da mulher, que exibia o barrigão da gravidez avançada, ele encheu um carrinho de bebê com revistas (ilustração abaixo) e foi para uma esquina comercializá-las a 75 centavos de dólar o exemplar. Vendeu tudo.

Distribuição alternativa

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