Plano de Aula Ensino Médio
A noite brilhante de Van Gogh
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Este plano de aula está ligado à seguinte reportagem de VEJA:
Objetivos
Analisar as obras noturnas do pintor e discutir sua forma de perceber e retratar a realidade
Introdução
"A imaginação é certamente uma faculdade que devemos desenvolver, e só ela nos pode levar à criação de uma natureza mais exaltada e consoladora do que o rápido olhar para a realidade. Essas palavras de Van Gogh ao amigo Émile Bernand, em 1888, dão uma boa idéia do pensamento do pós-impressionista holandês a respeito do olhar para coisas cotidianas, em especial o céu à noite. É esse o tema da mostra que está no Museu de Arte Moderna de Nova York, analisada por VEJA. A leitura da reportagem pode se converter em um excelente exercício de percepção visual para a garotada.
Atividades
1ª e 2ª aulas Após o exame do texto e das imagens, verifique se a turma é capaz de perceber nas cenas noturnas o encantamento do pintor por tais visões. Acrescente que, nesses trabalhos, o cosmo ao alcance dos olhos e a imaginação do artista são traduzidos em nuances complexas, descritas em cartas ao irmão Théo e a amigos.
Conte que Van Gogh justificava suas escolhas de cores dizendo que certas estrelas são amarelo-limão, ao passo que outras assumem tonalidades rosadas ou verde-azuladas. Para conseguir os efeitos desejados de contrastes entre tons claros e escuros, as cores tinham que ser complementares tonalidades de laranja sobre azuis escurecidos com preto.
Mostre para a moçada que esse estudo de cores é perceptível em diversos quadros. Neles, as luzes em amarelo sobre o fundo predominantemente azulado trazem uma rica gama de contrastes cromáticos entre tons suaves e densos, em que o branco não aparece isoladamente, mas sempre acompanhado de manchas amareladas. Assim, as cenas comuns, sob o olhar do pintor, se transformam em espetáculo pictórico.
Levante essa questão e provoque o debate: hoje sabemos que não enxergamos apenas com os olhos, mas também com a mente. Nosso conhecimento sobre as coisas é abastecido pela memória, pela imaginação e por observações do mundo. O jeito de olhar referido por Van Gogh vai além de visões externas e adentra a maneira como elas nos tocam. E para que isso ocorra é preciso estar aberto para senti-las em estado de estesia, palavra de origem grega usada para definir uma condição de sensibilidade, uma disposição para o sentimento do belo. Explique que a situação oposta é expressa na palavra anestesia, que significa não sentir. O olhar estésico nos conduz a uma leitura mais sensível do mundo.
Convém enfatizar que, segundo a curadoria da exposição, o interesse de Vincent van Gogh pelas imagens vistas no céu surge da busca de compreender as relações entre o homem e o cosmo, comparando as tensões e os movimentos presentes nesses registros às instabilidades da personalidade humana. Um exemplo está na carta ao irmão, em que afirma ter tentado em, Café Noturno, expressar as terríveis paixões humanas com o vermelho e o verde.
O pintor fez telas com imagens de luzes que o tocaram profundamente, a ponto de podermos até hoje nos emocionar com sua forma de capturar a realidade e de traduzi-la em cores, mesmo que o mundo noturno atual seja tão diferente daquele visto por Van Gogh, no século XIX. Faça uma demonstração para os jovens com fotos de eventos celestes que ocorrem a milhares de anos-luz da Terra ou exiba algumas imagens das estrelas ofuscadas pelas luzes artificiais urbanas. Ressalte que também elas oferecem contrastes belíssimos, mas tudo isso pode passar despercebido se não estivermos abertos a sentir e a pensar.
Vale lembrar algumas evidências feitas em estudos astronômicos de que as galáxias tendem a se unir, dando origem a novos conglomerados e as mudanças no universo. O quadro A Noite Estrelada, apresentado na reportagem, tem notável semelhança com a imagem da estrela V838 Monocerotis obtida pelo telescópio espacial Hubble (abaixo). Foram os cientistas que associaram a foto espacial ao quadro. Distribua cópias dessa foto para a garotada e polemize: será que o artista realizou uma criação visionária antevendo esse acontecimento? Realce que nessa obra o céu aparece em movimentada transformação, enquanto a cidade adormecida sonha com o despertar de mais um dia. Talvez a intenção de Van Gogh tenha sido apenas mostrar a cidade pequena diante da imensidão do universo e o ser humano minúsculo em sua existência frente às grandezas desconhecidas na época, mas já intuídas pelo artista.
Escrito nas estrelas: essa imagem da
hipergigante vermelha V838 Monocerotis
foi captada pelo telescópio Hubble, mas
Van Gogh já pintava formas semelhantes
em suas telas. Nasa/DivulgaçãoEm várias dessas cenas noturnas sobressai uma gama de cores de difícil observação a olho nu, visíveis no céu mediante lentes poderosas. Seriam tais matizes fruto de uma visão privilegiada do artista ou apenas resultado de um estado de estesia, capaz de capturar imagens que nutriam seu olhar? Essa pergunta introduz o questionamento a respeito das diferenças e similaridades entre o olhar comum e o olhar sensível pensante.
Feito isso, proponha que os alunos relatem uma experiência significativa ao contemplar o céu. A atividade pode ser complementada com uma pesquisa em sites, jornais e revistas que contenham relatos de pessoas que observaram situações inusitadas no firmamento, como eclipses e passagens de cometas. Sugira que incluam fotos do céu sob diferentes ângulos, que podem depois servir como base para uma produção artística dos jovens, individualmente. Procure estimular a realização de pinturas ou desenhos referentes a essas imagens, de modo a exercitar as três formas de produção: baseadas na memória, na observação e na imaginação.
Outra atividade interessante é estabelecer conexões transdisciplinares entre a visão científica sobre as movimentações e transformações cósmicas e as imagens criadas por artistas, nas diversas linguagens cinema, fotografia, web arte etc. Para avaliar o processo de ensino e aprendizagem é importante que se registre o percurso trilhado por professor e alunos, recolhendo relatos, produções, fotos das várias etapas e uma análise em grupo sobre essa experiência de conhecer Van Gogh e sua relação com os astros.
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